sexta-feira, maio 27, 2005

"OldBoy", de Park Chan-Wook

Class.:



“Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo.”
(Pitágoras)
Oh Dae-su (Choi Min-sik) é inexplicavelmente raptado e aprisionado por indivíduos desconhecidos, num aparente quarto de hotel contendo uma cama, secretária, bloco de apontamentos, televisão (onde constata que a sua mulher foi assassinada e ele é o principal suspeito graças ao seu desaparecimento) e um quadro em alternativa a uma janela. Após 15 anos de cativeiro é libertado de uma forma igualmente inexplicável e vagueando num restaurante conhece uma chefe sushi, Mi-do (Kang Hye-jeong), com quem estabelece uma imediata conexão. Ajudado por Mi-do, ele acaba por identificar Woo-jin, um industrial bem sucedido. Woo-jin apresenta a Dae-su o próximo passo do seu obscuro jogo, desafiando-o a descobrir as razões da sua clausura e a causa da sua libertação. Woo-jin designa um prazo limite de 5 dias e promete que no Dia do Destino um dos dois morrerá.

Baseado num Manga de Tsuchiya Garon e Minegishi Nobuaki, escrito por uma equipa que incluía o realizador Park, “OldBoy” é um filme recheado de comédia negra, violência sangrenta e paixões fervorosamente aluadas. Trata-se de uma Obra-Prima sádica. Somos abarcados por um delirante sentido de desorientação durante o visionamento da película, através da ultra-violência arrojada. A brutalidade extrema do filme transpõe o mero plano físico e visual, e a deterioração emocional das personagens envolvidas amotina-nos numa plataforma anímica. Rotular “OldBoy” como um filme de vingança é simplificar algo muito superior. Não existem heróis nesta complexa película sobre amor e o preço que alguns estão dispostos a pagar para o preservar.

O antecessor “Sympathy for Mr. Vengeance” é claramente um aquecimento para esta peculiar mescla de mel e fel, de beleza e abominação, de amor e horror. Com nítidos traços de tragédias Shakespeareanas, este filme aprofunda a ambiguidade do espírito humano e respectiva fragilidade quando corrompido pelos danos inerentes ao sentimento de perda e consequente desejo de vingança. A vulnerabilidade humana é expressa nos olhos abatidos e ávidos de redenção de Choi Min-sik, que arranca uma notável interpretação e dá o seu excelso contributo para salientar o tremendo lado humano do filme. A hipnótica banda sonora a cargo de Jo Yeong-wook é esplêndida e jamais esquecerei o divino momento proporcionado pelo trecho de Inverno da composição de Vivaldi, “Quatro Estações”, ou a sublime faixa que conclui o filme, "The Last Waltz".

Vencedor do Grande Prémio do Júri de Cannes em 2004 (presidido por Quentin Tarantino, que ficou deslumbrado com esta obra), “OldBoy” está longe de ser ovacionado por todos e certamente será vilipendiado por muitos. Pessoalmente jamais esquecerei esta inquietante, tumultuosa e perturbadora película. A viagem de tormento que experimentei neste filme abalou deliciosamente o meu âmago cinematográfico, fui arrebatado para um éden gracioso e arremessado violentamente para um lancinante inferno. Park Chan-wook revela um brilhantismo soberbo, brindando o espectador com cenas e planos magistrais, agitando de forma indelével o espírito de quem for sugado por esta relíquia.



O Final

3 Comments:

Blogger Carlos M. Reis said...

Uma obra-prima. Adorei o filme.

O resto está tudo dito no teu post.

Um filme a ver, por todos, amantes ou não do cinema asiático.

7:08 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

O filme é portentoso, belo e intenso.

12:46 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Um dos melhores do ano... Fabuloso!

7:14 da tarde  

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