domingo, junho 05, 2005

"Jaws", de Steven Spielberg

Class.:

“You’re gonna need a bigger boat” (Brody)
Em 1975, mesclando publicidade negativa com eminentes expectativas de desastre comercial e crítico, a Universal Studios arriscou lançar “Jaws”: um filme realizado por um jovem desconhecido chamado Steven Spielberg, sobre um tubarão devorador de pessoas, aterrorizando as praias da Florida. O filme estava condenado a ser um fracasso, no entanto (o então apelidado de ingénuo) Spielberg presenteou plateias com um dos thrillers mais bem concebidos de sempre, gerando inclusive a definitiva fórmula para os blockbusters de Verão.
Baseado no romance de Peter Benchley, o argumento de “Jaws” é sobejamente conhecido. Em Amity Beach na Florida, uma colegial é morta após o ataque de um Tubarão Branco. Tal é a conclusão do chefe Martin Brody (Roy Scheider) após receber o relatório médico. O acontecimento é abafado, pois pode afectar o negócio turístico da zona. Brody decide pedir ajuda a Matt Hooper (Richard Dreyfuss) depois de uma segunda investida do monstro e o cientista/observador de tubarões, classifica os ataques como obra de um enorme Tubarão Branco. Após uma terceira vítima durante as festividades de 4 de Julho, o conselho da cidade aprova que Brody, Hooper e um reputado caçador de tubarões chamado Quint (Robert Shaw, numa interpretação de antologia) persigam e eliminem o tubarão… isto se o temível animal não os devorar primeiro.

Spielberg confiante no realismo que o seu tubarão mecânico Bruce empregaria à película, utilizou um engenho à la Hitchcock: mantendo o tubarão oculto até metade do filme, quando a batalha com os três homens toma lugar. Ao fazer isto e deixando a câmara de Bill Butler adoptar a perspectiva do tubarão, acompanhada pela célebre composição musical de John Williams, Spielberg criou uma poderosa fonte de medo, graças ao que não podemos visualizar. Este é o verdadeiro poder de “Jaws”. Coloca-nos em contacto com as raízes primitivas do medo, um pavor atordoante, usando invulgarmente o suspense e proporcionando ilustres cenas de horror (das melhores de sempre!!). Não admira que na altura pessoas tenham ganho aversão à água, realçando o vigor da obra.



“Jaws” é um majestoso exercício de tensão, evidenciando ainda hoje o mesmo impacto de há 30 anos atrás. Cada sequência de ataque deixa-nos praticamente a suar. A sequência de abertura e conclusão são cenas inesquecíveis, clássicas. O filme inicia genialmente com escuridão e distantes sons marinhos. As primeiras linhas da composição de John Williams fazem-se escutar e a partir daqui Spielberg leva-nos para a água onde uma jovem nada desnudada a meio da noite. A hábil câmara filma inicialmente a rapariga por baixo, ofuscada pelo luar. Depois aproxima-se da adolescente e ela é subitamente atacada, agitada para trás e para diante, e por fim arrastada para as profundezas deixando as águas novamente pacíficas. Este início revela o cariz meticuloso do soberbo realizador, mas a minha cena predilecta ocorre quando Quint relata as suas experiências como um dos poucos sobreviventes numa horrenda investida de tubarões. O conto é baseado em factos reais, sobre o naufrágio do U.S.S. Indianapolis durante a Segunda Guerra Mundial, quando numa tripulação de 1100 homens apenas 316 sobreviveram a um terrível ataque de tubarões. A narração de Quinn captura a nossa atenção e quando o tubarão ataca o barco no termo do relato do caçador, todo o pavor gerado pelo ambiente explode em ondas de puro terror, arrepiando cada milímetro quadrado da nossa epiderme.

Considero “Jaws” uma superior criação de Spielberg (por vezes considero-a “a” melhor), numa extensa galeria de Obras-Primas (“Close Encounters Of The Third Kind”, “E.T.”, a saga “Indiana Jones”, “Schindler’s List”, “A.I.”, “Minority Report”, e por aí fora…). Engloba excepcionais diálogos, excepcionais personagens e excepcionais sustos. Em tempos, Hitchcock definiu o seu género a François Truffaut mais ou menos da seguinte maneira: «Se tivermos duas pessoas numa sala e uma bomba explodir de repente, temos dois segundos de susto. Mas se activarmos uma bomba à vista do espectador, e depois colocarmos na sala duas pessoas que desconhecem a explosão iminente de uma bomba oculta, teremos então alguns minutos de suspense». Para Spielberg a sala é a água e a bomba o grande Tubarão Branco. Spielberg sempre manifestou a sua veneração por dois cineastas: Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock. Steven Spielberg apenas evidenciaria a sua faceta Kubrickiana em “Close Encounters of the Third Kind” (1977), mas “Jaws” seria o expoente das suas referências Hitchcockianas. A composição de John Williams não é das suas melhores, mas o memorável tema do tubarão impõe um elevado ritmo de tensão e a sua assinatura ficou tão famosa como a melodia de Bernard Herrmann na cena do duche em “Psycho” de Hitchcock.

“Jaws” é um dos melhores filmes jamais edificados, um poderoso baluarte na história da Sétima Arte. É uma genuína aula de cinema ministrada por um novato, que na prática actuava como um mestre. Começava a era de alguém perito em atingir o nosso ponto fraco. Steven Spielberg ofertou uma valiosa pérola ao oceano cinematográfico.

6 Comments:

Blogger Carlos M. Reis said...

Optimo mesmo! Um filmalhaço!

É pena ver tantos elogios e comparações de "Open Water" (uma nódoa de filme), a este grande clássico que é o Jaws (se bem que as sequelas foram muito fraquinhas).

Um abraço!

6:09 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Sequelas e série de tv inspirada são uma blasfémia. "Open Water": ai minha nossa!!!!! k é isso????? ;) ()

10:08 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

oi.sempre quis ver este filme.mas ainda não o consegui encontrar.:-(

11:29 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Terás de estar muito atenta à programação televisiva. Se desejares gastar trocos bem gastos, compras o dvd ;)

12:03 da tarde  
Blogger Cataclismo Cerebral said...

O filme que inaugurou o conceito de Blockbuster: no verão de 75, a afluência às praias baixou cerca de 60%.

7:00 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Marcante.

9:50 da manhã  

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