sábado, novembro 19, 2005

"La Marche de l’ Empereur", de Luc Jacquet

Class.:

Quebrar o gelo

Após o visionamento deste filme passei a abominar a reincarnação. A vida do Homem é deveras intrincada, mas a vida do Pinguim Imperador, repleta de privação, óbices, perigos e adaptação a ambientes hostis num dos cantos mais adversos do planeta, é bastante mais espinhosa. “This sucks!”, apregoavam os «cute and cuddly» pinguins de “Madagascar” ao aportar na desoladora Antártida… e quem poderá censurar a irrepreensível citação? Aliás, existirá algum complô para ascender os pinguins a figura mais queriducha do ano de 2005?

Todos os Invernos, nos inóspitos desertos de gelo da Antártida uma épica expedição é perpetuada. Milhares de Pinguins Imperadores abandonam o seu aquático habitat azul cristalino e trepam para a superfície gelada, dando início a uma longa jornada, pautada pela irresistível necessidade de reprodução, para assegurarem a sobrevivência da espécie. Numa maviosa cerimónia monógama, ornamentada por cânticos e carícias, a magia acontece entre estes peculiares animais… mesmo sem retirarem os respectivos smokings. Mas as adversidades e provações são inúmeras, desde gélidas ventanias, temíveis predadores, ausência de nutrição durante meses e até ataques de desespero das fêmeas que perdem as crias.

É um ritual árduo e por vezes ingrato, mas acima de tudo enternecedor, ditado por imperativos instintivos que regulam a natural devoção dos pinguins pela sua procriação. Num mundo onde desafogados humanos chacinam inúmeras formas de vida, “La Marche de l’ Empereur” é uma formidável asserção da excelência da Natureza face a desafios ambientais. Enquanto sobrevivemos ao stress social quotidiano para nos refastelarmos ao fim do dia na soalheira atmosfera caseira, estes pinguins subsistem a torturas polares para consolidarem a sua reprodução.

Anteriores filmes (“Winged Migration”, “Microcosmos”) demonstraram como gloriosas imagens podem despontar numa tela de Cinema sob a forma de documentário. A paciência da intrépida equipa de Jacquet para interceptar os padrões migratórios, o acasalamento e o drama da aparição de predadores, foi colossal. Durante 14 meses, a equipa viveu (se é que podemos aplicar este termo) numa zona do planeta onde pegadas vão sendo extintas a cada nova passada. Este será um dos raros casos onde o extra “making of” da edição em DVD, poderá ter um interesse idêntico ao próprio filme. Apesar do filme evidenciar o clima impiedoso, a beleza do local não é descurada. As câmaras de Jacquet captaram inclusive a gloriosa Aurora Boreal e afinal de contas... o gelo é bem fotogénico.

Infelizmente a narrativa é pouco fluida e enquanto os olhos se encontram alienados por um panorama arrebatador a mente divaga demasiado, abstraindo-se um pouco do propósito da projecção. Outro ponto negativo é o facto da versão original empregar (por vezes) voz aos pinguins, num mecanismo banal e desarticulado. Mas o filme é maioritariamente Arte, distanciando-se do típico documentário de meia hora apresentado pelo Discovery Chanel. “La Marche de l’ Empereur” tem um poderoso impacto emocional graças à sua calorosa história de amor, numa das mais frígidas localidades terrestres.

13 Comments:

Blogger Carlos M. Reis said...

Tenho que o ver antes que saia de exibição. Por uma razão ou por outra tenho sempre adiado a minha ida a este filme. Depois por cá passo para dar a minha opinião.

Mesmo assim, pelo que li do que disseste Francisco, não percebo porque só dás 3 Estrelas :)

Um abraço.

8:46 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Decidi focar a crítica nos aspectos positivos, pois o sacrifício da equipa do filme merece ser enaltecido. Mas existe pouca fluidez e o filme divaga demasiado, aparentando moer em demasia com o propósito de encaixar a obra numa longa-metragem...

Mas a experiência de Cinema é bem interessante.

Um abraço!

1:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É um dos vários filmes que ainda tenho que ver este mês :D See ya!

1:54 da tarde  
Blogger Gustavo H.R. said...

Estranha a decisão de dar vozes aos pingüins; deve ficar deslocado em um documentário. Apesar do sucesso e dos elogios, desconfio que seja inferior ao deslumbrante WINGED MIGRATION.

Cumps.

2:34 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

André Batista: É uma bela experiência... dá-lhe uma espreitadela.
Cumprimentos.

Gustavo: A decisão de dar voz aos pinguins, na versão original (francesa) foi descabida. E também concordo contigo na última parte do teu comentário... "Winged Migration" é bem superior... na minha opinião.
Cumprimentos.

9:01 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Que o amor impere nalguma forma de vida... BJ

3:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O filme ainda não estreiou no Brasil, mas acredito que seja o principal favorito ao OSCAR de Documentário...Marfil-SPOILER

3:56 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Gnose: Sem dúvida. É amor na sua forma mais puritana.

Marfil: Acredito que seja o principal favorito... mas o que dizer de "Aliens of the Deep" de James Cameron"?

4:49 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Por toda a dificuldade tecnica e até criativa, estamos perante um excelente trabalho cinematográfico e não perante um objecto "simples" de National Geographics.

Cumps

Manuel Barros
ROLLCAMERA

12:30 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

eu vi na versão original, é um bom documentário, apesar das vozes por vezes distrairem um pouco, mas não muito... estamos mais centrados na aventura dos pinguins do que propriamente na concepção do filme... O "Aliens of the Deep" de Cameron, está bom também, mas é de cariz mais exploratório. A explicação por vezes nºao é aprofundada, as imagens e a realização estão bastante bem conseguidas....

1:28 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Manuel Barros: Tal como evidenciei na crítica o filme é maioritariamente Arte.
Cumprimentos.

membio: Tenho de arranjar esse "Aliens of the Deep"... não sei como, mas tenho...

7:45 da manhã  
Blogger gonn1000 said...

Apesar de boas imagens e banda-sonora, o filme sabe a pouco e parece ter sido esticado. A voz off também não ajuda. É giro, mas só isso.

5:14 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Sem dúvida... o filme aparenta ter sido delongado em demasia para encaixar em longa-metragem...

12:55 da tarde  

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