segunda-feira, março 05, 2007

The Fountain




O Amor e a Morte
José Régio

Canção cruel

Corpo de ânsia.
Eu sonhei que te prostrava,
E te enleava
Aos meus músculos!

Olhos de êxtase,
Eu sonhei que em vós bebia
Melancolia
De há séculos!

Boca sôfrega,
Rosa brava
Eu sonhei que te esfolhava
Pétala a pétala!

Seios rígidos,
Eu sonhei que vos mordia
Até que sentia
Vómitos!

Ventre de mármore,
Eu sonhei que te sugava,
E esgotava
Como a um cálice!

Pernas de estátua,
Eu sonhei que vos abria,
Na fantasia,
Como pórticos!

Pés de sílfide,
Eu sonhei que vos queimava
Na lava
Destas mãos ávidas!

Corpo de ânsia,
Flor de volúpia sem lei!
Não te apagues, sonho! Mata-me
Como eu sonhei.



Passaram dois dias sobre o nosso encontro. Bebi de ti. Saciei-me em ti, no teu néctar cristalino. Poucos te compreenderão e serás rejeitada por outros tantos. Mas eu venero-te. Ajoelho-me aos teus pés. Para mim, representas excelência. Apelidam-te de fria. Pois para mim, emanas um calor que alimenta. Que ferve. Naquela sala escura, jamais experimentei algo tão intenso como o clímax que me proporcionaste. Que momento! Juntos ascendemos ao infinito. Por breves segundos, juro que senti minha alma em ascensão… senti-me fora do meu corpo. Juro! Quando voltei para esta jaula física, conseguia escutar o batimento frenético do meu coração. Juro! Vislumbrei lágrimas nos doces contornos da tua face e não me consegui conter… chorei na tua majestosa presença. Poderás não existir para muita gente, mas existes para mim. Vives comigo. Pulsas em mim.
Enigmático? Nada disso… Cristalinamente simples.

18 Comments:

Blogger André said...

Fiquei bastante curioso em relação a The Fountain. Já tá na lista...

12:01 da tarde  
Blogger Tiago Costa said...

Um filme espantoso, uma obra-prima.

12:30 da tarde  
Blogger Juom said...

Experiência brutal!

Desde sábado à noite, por muito que tente, não consegui ainda escrever nada sobre o filme. Algo que só me lembro de ter acontecido com o "Thin Red Line"...

Grande texto, Francisco.

12:37 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

André: Para o bem ou para o mal, prepara-te para saíres da sala abalado. Aronofsky é imenso.

Tiago: Uma experiência sensorial como jamais vivi numa sala de Cinema. Todos os elementos se fundem num só. E a banda sonora?... Que criação divina.

Paulo: Não tenho qualquer tipo de problema em afirmar que esta é a minha melhor experiência no contacto com a Sétima Arte. Por muita obra que ame, nunca um filme conseguiu efectivamente sugar a alma do meu corpo. Não... não exagero. Aquele momento final orgásmico é trancendental na verdadeira acepção da palavra. Por breves segundos senti que planava acima do meu corpo. É a mais pura das verdades.

1:07 da tarde  
Blogger Tiago Costa said...

Também foi uma das experiências cinematográficas que mais me tocaram.

Ao contrário do que se tem dito em alguma imprensa, o filme encontra-se no lado oposto do pretensiosismo: na simplicidade e beleza mais comoventes.

E que dizer de Hugh Jackman e a sua incrível entrega emocional?

1:26 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Um verdadeiro tour de force na ampliação da viagem emocional. Um trabalho que merece contemplação devota. Um filme que recebeu uma bela dissertação pela tua escrita.

E que dizer da composição de Mansell e da fotografia de Libatique, eternos colaboradores do génio de Aronofsky?

O tempo irá ascender esta obra ao Altar que merece... que é seu.

1:55 da tarde  
Blogger brain-mixer said...

Tenho a BSO e é verdadeiramente fenomenal...
Nem acredito como é que nem ponderaram em nomeá-lo para o Óscar de melhor Banda Sonora. Talvez porque lá para os lados do Kodak Theater se valorize mais o Formalismo e academismo...? :S

5:28 da tarde  
Blogger Gonçalo Trindade said...

É,de facto, uam experiência assombrosa. Uma verdadeira obra de arte (no verdadeiro, mais profundo sentido da palavra). Os últimos 15 minutos deixaram-me literalmente de boca aberta, perante os sentimentos e o poder visual que a obra me transmitia.

Daqui a alguns anos, será apelidado de obra-prima. Mas enquanto tal não acontece... estamos cá nós para nos certificarmos de que esta obra recebe o reconhecimento que merece.

Isto não é um filme. Isto é muito mais que um filme. Isto é uma experiência de vida.

Um filme perfeito em todos os aspectos, desde a ASSOMBROSA banda-sonora (assombrosa por toda a sua arrebatadora beleza poética), até à maravilhosa fotogafia.

Quando penso naquilo que Aronofsky fez até agora... é assustador. Daqui a muitos anos as pessoas falarão dele como um génio. E nós poderemos dizer que estivemos aqui, nesta altura, quando este génio, este artista, este visionário se revelou.

A palavra "obra-prima" foi feita para filmes como "The Fountain". E agora que penso bem, a palavra "obra-prima" ainda assim não faz justiça a esta experiência arrebatadora...

E ainda há pessoas que dzem que o cinema hoje em dia é uma indústria e não uma arte... pfft.

5:40 da tarde  
Blogger Loot said...

Sabes quando estreia nas salas?
Comprei no sabádo a banda desenhada do Fountain :)

6:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

já estou com um aperto cá dentro só de ler este post...

7:16 da tarde  
Blogger RPM said...

Olá Francisco....

um texto, uma declaração. Parabéns à Ninfa, por tu seres o 'Ninfo'.

abraço de amizade

RPM

7:32 da tarde  
Blogger José Miguel said...

Um Hino à Vida e, à Morte também, no seu mais profundo esplendor!

Se houve filme na minha vida que me deixou sem fôlego então esse filme foi The Fountain.

Uma experiência para nunca mais esquecer, a seu tempo será elevado ao mais alto patamar cinéfilo.

Uma boa oportunidade para ler o Comic Book escrito também por Aronofsky para mais uma bela surpresa, quem sabe.

Maravilhoso final do Fantasporto.

Abraços Cinéfilos Francisco.

7:36 da tarde  
Blogger Nelson Magina Pereira said...

Como gostaria de partilhar do teu entusiasmo. Infelizmente não me senti tão arrebatado. O que não quer dizer que não o considere um bom filme. E sim, a banda sonora é magistral.

Cumps.

(faço no meu blog uma pequena observação do filme)

2:35 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Edgar: Também possuo religiosamente essa relíquia.

Gonçalo: É realmente um orgulho pertencer à era deste cineasta e ter o privilégio de contemplar suas obras. São realmente experiências de vida e repito: nunca senti numa sala de Cinema algo como aquela transcendência provocada por aqueles breves segundos de ascensão. Todo o filme é um clímax contínuo, mas naqueles segundos finais a explosão audiovisual é de outro mundo.

looT: Já esteve programado para estrear este mês, mas creio que já houve outra manobra de adiamento à distribuidora nacional. Haja FANTAS!

Helena: Como ultimamente andamos apartados em gostos, não sei se vais sentir o que senti. Mas que esta obra me modificou enquanto cinéfilo... isso é inegável.

Rui: Abraço e votos de uma bela semana!

José Miguel: E também, em todo o seu esplendor, um Hino ao Amor.

Abraço!

Nelson: Aceito todas as opiniões, mesmo as mais detractoras, pois a Arte é subjectiva e toca-nos de forma Supra-Pessoal (como repito inúmeras vezes).

Sob o meu espanto e assombro, fui brindado com um breve momento de transcendência. Que mais pode desejar um espectador... um cinéfilo?

9:08 da manhã  
Blogger Cora said...

Assisti ao filme, que no Brasil saiu com o título "A Fonte da Vida", e achou bom. Reconheci a arte no filme, mas foi só. Agora, depois do seu texto vou revê-lo e apreciá-lo finalmente. Gostei do que escrevestes.

4:45 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Bem-vinda a este meu recanto.

Quem sabe no futuro possas vir a apreciar este filme com outros pontos de vista?...

9:40 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

A todos os que amaram esta obra... imaginem que um ano antes deste filme sair já lias mt sobre ele, já ansiavas a sua vinda, ele estreia nos states... e passado um pouco aparecem os primeiros avi's na net, pessima qualidade logo esperas porque sabes que este é especial... e começas a ler os primeiros comentários a venerar esta obra e mts outros a odia-la, mas tu confias neste DEUS em transmitir sentimentos na 7ª arte que é Aronofsky. Depois de aparecer o 1º dvd na net tu esperas novamente, preferes agora vê-lo no cinema, pois a experiência será estrondosa. Mais uns meses de espera... Já ouves a banda sonora vezes sem conta, pois é bela e faz-te sentir bem, paz interior. Lês mais comentários ao filme na net, e cada vez tens mais certezas que isto para ti não vai ser apenas um simples filme. Em Janeiro a primeira decepção... The Fountain não está nomeado para nenhum oscar... em Fevereiro mais uma desilusão, The Fountain está previsto estrear dia 15 de Março em Portugal em apenas 2 salas de cinema, incrédulo, perguntas-te porquê?? PORQUÊ?? Moras no Algarve... e seguir para Lisboa para ver um filme para a maioria das pessoas é no minimo uma maluquise, mas vontade não te falta. Ora aí começa uma nova jornada, quando o filme já estreou em Portugal, tu prometes ver O filme com uma pessoa que para ti é muito especial e queres partilhar este momento com ela. Ela estuda em Lisboa o que torna tudo muito complicado... Os meses passam, tu lês cada vez mais comentários absolutamente rendidos a esta obra, mas aguentas-te fielmente á tua promessa, só o verás com essa pessoa. e os meses passam e nunca dá, o dia não chega. O DVD chega a Portugal e tu compras... Ofereces a essa pessoa, para guarda-lo para esse dia tão especial, que nunca mais chega. Passam 6 meses, 7, 8, O filme na net começa a ganhar mais e mais fans devotos e cada vez mais se podem ler interessantes discusões de ideias e teorias em torno deste. Setembro, Outubro... ... a tua amiga que tanto adoras começa a sentir-se mal ao ver-te tanto tempo á tua espera, mas tu, tranquilo, irás esperar o tempo que for necessário. Dezembro, Janeiro... Na tua cabeça existe um misto de paz interior e inquietação para ver O filme. ... Fevereiro... A tua amiga entra de férias e faz a pergunta que tanto anseias "Quando vamos ver O filme?". Tu respondes, "quando quiseres e tiveres disponivel". E a data chega, 10 de Fevereiro, ao saber o dia começas a sentir um friozinho na barriga, pois o que dantes parecia uma eternidade finalmente tem data... soa estranho e um pouco irreal dizer... é amanhã!!! Chega o dia... contas as horas... os minutos, os segundos... a tua cabeça está preparada para levar uma tareia emocional, sabes bem o que te espera, sabes que aquele momento vai ser unico, e que pela primeira vez, e com toda a certeza que irás ver O filme, A obra. Sabes que irá ser a tua experiência mais fantástica e arrebatadora alguma vez vivida... Começa com uma simples frase biblica... e 90 minutos depois chega ao fim uma jornada única... As emoções triplicam-se infinitamente pois alimentaste esse teu bicho durante um ano, lendo sobre Ele, ouvindo a Sua musica etc etc... E no final... tens a certeza que valeu a pena esperar... Porque sabes que viveste esta experiência mais intensamente que qualquer outra pessoa. ... ... Será que esperariam tanto tempo? Eu esperei e não me arrependo, custou muito, mas foi muito mas muito gratificante... Uma experiência de vida unica. Que viagem!! E a partilha desta Obra a alguem tão especial... a espera só demonstra o quão especial ela é.

Digam o que disserem, este é O filme!! A obra!! Nenhum jamais lhe tirará do trono, talvez a seu tempo... alguem mais reconheça isso ;)

Cumprimentos.

dKs...

10:09 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

"The Fountain" é uma autêntica experiência de Vida.

6:05 da tarde  

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