sábado, abril 07, 2007

"INLAND EMPIRE", de David Lynch

Class.:



Meditação Transcendental

INLAND EMPIRE” desafia convenções em todas as suas vertentes, tendo sido gerado aparte do sistema de produção tradicional e distribuído alheio aos habituais canais de difusão. Cada fotograma desta magnífica criação abala fundações cinematográficas, subvertendo leis e contradizendo regulamentos de Teoria Fílmica. Filmado com uma câmara de consumidor (Sony PD-150), “INLAND EMPIRE” afronta expectativas e lógica, ao longo de três horas que assombram como metáfora da criação artística, como lento despertar de ânsias e inquietações existenciais, ou como liquefacção espiritual de uma actriz que se emaranha no âmago da sua Arte (Laura Dern numa monumental interpretação que alumia humanismo, apesar de cercada por um nevoeiro cerrado de realidade e ilusão). Obcecado com o poder hipnótico do deslumbramento, Lynch questiona quem observa quem, quando contemplamos a tela ebúrnea. Abandonados à nossa própria mercê, somos sonhadores que vivem o sonho… ou o pesadelo. Cabe-nos viver e sentir a experiência, manipulando e chocando elementos para conferir resoluções pessoais. É nesta constatação que David Lynch se afigura como um dos cineastas mais fundamentais de sempre. Surreal, onírico e mesclando mistério tentacular com ironia sublime, a sua aproximação metafísica à Causa e Efeito resulta numa Meditação Transcendental que emerge revelações Supra-Pessoais. Cada mutação narrativa significa uma confidência que projecta um renascimento. Lynch avisa-nos no início do filme: «A escada é escura». E quão obscuros serão os corredores do nosso âmago, repositório dos nossos medos, contrições e sofrimentos? Quantas vezes tropeçamos no escuro ao deambular por vielas existenciais, suplicando por um foco de Luz? “INLAND EMPIRE” é Cinema Rorschach. A superfície aparenta ser abstracta, mas paulatinamente começa a reflectir respostas que atingem individualmente o espectador. A unidade de forma, a respectiva beleza e desassossego, impulsionam a estranheza num enriquecimento dos temas oblíquos que selam hermeticamente significados. Cabe à nossa Alma esquadrinhar estas camadas poéticas, para serenar alvoroços íntimos .

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Infelizmente, em Portugal, ver Lynch numa tela não é para todos. Tal como sucede com The Fountain. Duas salas..? Francamente.

Boa Páscoa, Francisco ;)

2:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Abandonados à nossa própria mercê, somos sonhadores que vivem o sonho… ou o pesadelo.. Nem mais...
Gostei bastante do teu texto, transmite muito do que foi a minha experiência de visionamento.

7:25 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Fábio: É realmente uma infelicidade. Contudo, este não é um filme para todos e até chegará a ser frustrante para muitos.

Cumprimentos.

Helena: Adorei este renovado ensaio de Lynch, contudo, devo admitir que não atinge (para mim) o patamar de um "Mulholland Dr.", de um "Blue Velvet", de um "The Elephant Man", de um "Eraserhead" ou de um "Lost Highway". E apesar de ter apreciado as escolhas sonoras do mestre Lynch, senti falta de Angelo Badalamenti. Não sentiste?

8:58 da manhã  
Blogger brain-mixer said...

Tenho de arranjar um tempinho para ver essas 3 horas de "Rorschach" ;)

10:08 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Apanhaste a definição que grafei :)

10:37 da manhã  
Blogger C. said...

Continuo com uma pena incrível por não ter gostado...

5:59 da tarde  
Blogger João Ricardo Branco said...

Compartilho o entusiasmo, mas vou mais longe. Digamos, para simplificar sem exagerar, que estamos perante uma das maiores obras-primas dos últimos 30 anos. Com «INLAND EMPIRE» parece que todo o Cinema parou e começou de novo. É realmente um privilégio sermos contemporâneos da estreia de um filme desta magnitude.

11:53 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

WB: As decepções também fazem parte da vida de um cinéfilo.

João Ricardo Branco: Não vou tão longe como tu na apreciação, mas entendo perfeitamente o entusiasmo.

8:58 da manhã  
Blogger Raquel Felino said...

Tambem nao concordo que este e um lynch dos melhores. Talvez seja um dos mais complexos e é sem duvida um filme muito bem feito, muita estético, muito perfeitinho formalmente. Mas não acho um filme bonito. Não concordam? Mulholland Dr. é lindissimo, este nem por isso. Leiam mais comentarios no meu blog raquelzinhafernandes.blogspot.com

11:08 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Por acaso até acho o filme lindo. Encaixa perfeitamente na minha definição de lindo, reconhecendo contudo, que também prefiro a magnificência de "Mulholland Dr.".

11:44 da manhã  

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